Poderia dizer que no berço fazia versos.
Poderia, mas mentira seria.
Os versos não nasceram comigo:
Nasci sem roupas nem palavras,
emitia primitivos grunhidos de bebê
que nem de longe lembravam versos.
Estes me foram apresentados
e novamente mentiria se lembrasse
quando e por quem.
Estavam lá e onde eu também estava.
Não me causaram efeito imediato.
Mas um dia, cansado já de saber que
existiam,
percebi que poderia fazer do verso ponte
entre eu e você e todo mundo além.
Gostei. Você gostou também.
Acredito que as pessoas mais afáveis
não consideraram a experiência
desagradável.
Assim sou e estou: o poeta enfim nascido
com o verso ao lado;
com o tempo, seu fado, que está contra ele
porque faz o único caminho possível
para o dia ou noite em que irá desaparecer.
Iletrado nasci, poeta não.
O ser da palavra que me fiz, este sim,
brincava com os versos em seu berço.
Outra dinâmica minha extinção possui:
morta a pessoa, o poeta é morto.
Carregará consigo um verso derradeiro
nas pontas de grossos e já frios dedos
e nos olhos de quem o leu.
Alessandro de Paula
@palavratomica
2 comentários:
E os olhos de quem ler, para sempre terá a lembrança. Extinto ou existente, o poeta viverá eternamente.
O poeta vive em sua obra, Plin. Sempre.
Abraço, camaradão! :)
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