quarta-feira, 14 de março de 2012

Com o verso


Poderia dizer que no berço fazia versos.
Poderia, mas mentira seria.
Os versos não nasceram comigo:
Nasci sem roupas nem palavras,
emitia primitivos grunhidos de bebê
que nem de longe lembravam versos.

Estes me foram apresentados
e novamente mentiria se lembrasse
quando e por quem.
Estavam lá e onde eu também estava.

Não me causaram efeito imediato.

Mas um dia, cansado já de saber que
existiam,
percebi que poderia fazer do verso ponte
entre eu e você e todo mundo além.
Gostei. Você gostou também.
Acredito que as pessoas mais afáveis
não consideraram a experiência
desagradável.

Assim sou e estou: o poeta enfim nascido
com o verso ao lado;
com o tempo, seu fado, que está contra ele
porque faz o único caminho possível
para o dia ou noite em que irá desaparecer.

Iletrado nasci, poeta não.
O ser da palavra que me fiz, este sim,
brincava com os versos em seu berço.

Outra dinâmica minha extinção possui:
morta a pessoa, o poeta é morto.
Carregará consigo um verso derradeiro
nas pontas de grossos e já frios dedos
e nos olhos de quem o leu.

Alessandro de Paula
@palavratomica

2 comentários:

Plínio Alexandre dos Santos Caetano disse...

E os olhos de quem ler, para sempre terá a lembrança. Extinto ou existente, o poeta viverá eternamente.

Alessandro disse...

O poeta vive em sua obra, Plin. Sempre.

Abraço, camaradão! :)