Antes que me condene
ao crime de total inutilidade na vida,
culpe-me por fazer poesia
- tão desesperadamente alienado do viver
e escrevente crédulo de meu desespero.
Escrevi tantos versos
convertidos sem outro crime,
aos que somente habitam o coração
sedentos do belo.
Eles, aqui confundidos aos nós,
vimos o mundo
e nos refugiamos nos versos,
- incontidas ilhotas de esperança,
para não mais voltarmos
a desamparar o olhar.
Tentei, durante tamanha escassez de poesia,
cativar tal companhia
em minha própria alma
e na dos que morreram quando avistaram.
A companhia do olhar
é a única que possa julgar
o risco de um poema.
Os que viram
são os que esqueceram de imaginar.
Logo os suponho,
assim menos vivi.
Vimos o que desistimos de viver:
utilidade máxima para o ofício de poeta.
Culpe-me por dar ao vazio
maior importância
do que à minha imprópria vida,
vez insuficiente para eu ser.
Meu nome no fim
é um testamento
do que não existi.
Eu condenado
pelos esquecíveis poemas
que arrisquei encantar,
com viver a ninguém.
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