segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Da doença e do afago

Imagem originalmente disponível aqui.


Quem sabe medir o peso de uma vida,
depois de haver lidado com desamor e selvageria,
ainda lidando com a competição
numa cidade-monstro, este cíclope-orgasmo-cinza
que nos impressiona e devora -
que nos encurrala e encanta?

Quem saberia ouvir, além de toda poluição,
de cada trovão,
os sinais de que, sim,
há amor e pessoas dispostas a tal entrega?
Que o carinho é possível, a despeito de tudo?
É mais possível que as rimas sem rimas deste poema.
Que a ausência de ritmo
desta pequena peça de comunicação a qual insisto chamar de poema.

Quem sente o calor sutil do suave contato?
A pele que roça pele que...
Quem anda com pressa e consegue ainda reparar
na rosa ali no canto do canteiro
ou no verso de Florbela?

Quem esteve e está doente, mas recebe os afagos
e ainda é capaz de ser grato, aceitar este afago e a tal doença?
Amor e morte... tanto, tantas numa única vida...

Criança, estou falando de tudo.
Pega suas falhas futuras, suas decepções vindouras
e faz poema.
Risca estas linhas com lápis e palavra,
arrisque-se, arrisque sua visão ao longe,
vista suas asas e voe à luz do sol,
cegue-se e prossegue,
mas extraia desse calvário todo amor disponível.

Pega toda alegria que esse amor proporciona e junte-a a cada lágrima que derramou,
que você tenha guardado num cantinho isolado, secreto.

Quem sabe ver que é livre,
a despeito de toda dor?

Alessandro de Paula
@palavratomica

4 comentários:

Lai Paiva disse...

Alezinho querido, por mais que saiba que de você sempre fluem os melhores versos, os mais ricos textos, os maiores sentimentos, sempre me surpreendo mais com sua expressão poética. Você é insubstituível e irretocável. Um ser iluminado e de versos raros. É uma honra ser sua amiga, além de simples leitora. Parabéns de verdade. Adoro você! Beijos meus.

Lai Paiva

Leonardo Valesi Valente disse...

Das angústias, o poeta chegou aqui. Veio transborando aflições, derramando palavras como que criasse um universo pronto para deleites, afetações, retoques da própria vida. Lendo, fui outro também.

Alessandro disse...

Suas palavras enaltecedoras, amigos, me ajudam a seguir em frente com os versos e com a vida.

Obrigado! Beijabraços! :)

Luis Fernando disse...

Desse eu gostei!