segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Introdução a uma revolução da natureza

"Cape Town City Cowl Lightning #1", de Juan-Pierre Coleman.
Tempestade de raios na Cidade do Cabo, África do Sul.
Foto originalmente postada aqui.

Sou o homem.
Trago comigo a indústria.
Sou o homem.
Trago comigo o lucro.
Sou o homem.
Trago comigo o progresso.

Assim como não percebi o suor de quem para mim trabalhava,
nem suas expressões exauridas e
tampouco a dor, tampouco a dor...
também não percebi o mato surgindo por entre as placas de concreto.

Ignoro todos os avisos:
os trovões,
a caótica condição climática,
as calotas polares que derretem.

Há lobos que se fazem cordeiros
para fazer lucro,
palestrando sobre um iminente
desastre.
E eu?
Faço o desapercebido...

Trago comigo o lucro! Todo o resto é bullshit!
bullshit eu ignoro.

Sou positivo. Sou homem de ação.

Sou o homem.
Trago comigo a indústria e o lucro.

Trago comigo o fracasso...

Sou o homem
e penso ser deus de alguma coisa.
Sou o homem...

... e nada posso fazer contra a revolução da natureza.

Alessandro de Paula
@palavratomica

6 comentários:

Mara Medeiros disse...

Me orgulho de compartilhar este espaço do Coletivo. Aprendo a ser Revolucionária em cada texto dos poetamigos.
Especialmente com você, Poeta de olhar atento, que vai tecendo nas entrelinhas do que escreve a malha das importâncias reais. Porque, "Todo o resto é bullshit!"
Beijo na alma, Ale!

Alessandro disse...

Mara, obrigado! "Introdução..." eu escrevi em mesa de bar, rodeado de amigos, num encontro de última hora, um pouco antes do nosso sarau.

A referência, que é minha visão de mundo, já estava na ponta da caneta.

O mundo poderia ser melhor. Todo o resto, a ganância, é bullshit. Pra outros, a Poesia é bullshit. Ou tentar fazer do mundo um lugar melhor pra todos e não somente para "os poucos eleitos" é bullshit. Pena...

Mas sigamos em frente, escrevendo mais capítulos de nossa revolução.

Beijo pra ti!

Leonardo Valesi Valente disse...

Lê!

O homem se inaugurando assim distancia da natureza.

Porém o que ele cria é um outro sem nome, um deslugar para a própria vida.

De posse do vazio, reativo do que expropia, o que levará tanto (des)humano querer de novo?

Não sabemos as respostas, ainda estou apontado pelo que seu poema devastou dentro de mim, re.conhecendo-me nesse homem despossuído.

Abraços, companheiro!
Leo.

Alessandro disse...

Engano seu, Leo. Você está tão inserido na natureza... tanto que trabalha com a mais complexa delas: a mente humana.

Não se afaste, não se torne este despossuído, apenas.

Abraço, camarada! :)

Ani Almeida disse...

Navegando com tempo por esse Blog, parece-me que uma outra dimensão se abre no tempo e no sonho: a da #possibilidade...Esperança reacende!

Bem, fico imensamente feliz por encontrar poetas tão bons e antenados com o seu tempo.

Com certeza sempre passarei por aqui, prestigiá-los, e com certeza encontrarei essa chama sempre acesa.

Parabéns e obrigada!

PS.: Alessandro, deixo um poema meu para fomentar as discussões que vc estimula no seu texto - talvez, um outro lado, talvez o mesmo:


.só.sou.sol.

Só trabalho a dor.
Sou trabalhador.
Sol, trabalho e ardor.



Um abraço meu

Alessandro disse...

Ani, esteja sempre por perto. Sempre haverá por aqui surpresas poéticas positivas.

Gostei do reverso do poema. Se este trabalhador tivesse tempo para imaginar a revolução que se forma na natureza, fugiria ao trabalho no mesmo instante. Eh eh eh!