(trechos da crônica Pedidos)
Iluda-me. Porque em mim cresce a vontade de desvendar um mundo que não existe, e enveredo-me exatamente por onde não poderia ir.
Engana-me. E no cinza da noite, você é a cor que dou. Na cor, me contento. Por pouco tempo. Por todo o tempo.
Ludibria-me. Labirinto que me atrai e me repulsa. E eu não consigo mais medir temperatura nenhuma.
Mistifica-me. Eu aceito o seu fingimento, porque eu busco o que me dói. E eu não vou mais lutar, pois quanto mais eu sofro, mais eu amo.
Confunda-me. Porque as palavras que você me cospe eu recebo com carinho. Destilo todo o mal, ainda que só isso haja, e absorvo apenas o que eu quero.
Desorienta-me. Transformo-te em doença, e não desejo a cura. Porque prefiro andar em círculos.
Desconcerta-me. Ainda assim, eu não me importo. Apenas te comporto. E fingo que me conforto.
Seduza-me. Distorce a minha realidade de maneira com que meus sentidos fiquem todos alterados. Alternados. Embramados. Amarrados. Embriagados.
Sofisma-me. Cubro-me com tuas razões falsas, e as sei falsas, mas as torno verdadeiras.
Devaneia-me. Sou o ponto de partida. Se fiz do meu referencial o sofrimento, hoje me rendo e no dissabor começo a me curar.
Fantasia-me. Do que já sei, não tenho sede. Mas do improvável, me alimento.
E, por fim, fazendo tudo isso, lenta e metodicamente, frustra-me. E levarei de ti apenas um pouco. O tanto suficiente para que com um próximo alguém, as minhas palavras ganhem novamente o sentido que hoje apenas tem para ti.
Luciana Pimenta
@lulypim
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