Castanhos brilhosos e úmidos eram os olhos de Irina. De uma cor cintilante, de um contorno sinuoso. Falavam por ela, enquanto calava. Ora piscavam pausadamente, como se recitassem versos, ora abriam-se como uma flôr no exato instante em que amanhece a primavera, ora fechavam-se como o tempo na iminência de um temporal.
Seus cílios eram longos, suas pálpebras eram ágeis. Seus movimentos, precisos.
Tornavam-se densos, quando ela entorpecia-se de drogas lícitas vendidas em caixas com tarja preta, com a mais sóbria intenção de aliviar os tremores involuntários de seus músculos oculares e do resto de seu corpo, tomado por uma ansiedade generalizada e sem precedentes.
Às vezes travavam uma verdadeira luta, Irina e seus olhos, na intenção de mantê-los abertos e acesos junto à luz do dia, pois por vezes teimavam em recolherem-se. Muitas vezes quando ela mais precisava mantê-los bem abertos.
Seus olhos pareciam que não eram dela, mas deles mesmo.
Raras vezes fechavam-se como cortinas, a ocultar ou finalizar algo. Um cansaço momentâneo os vencia ou simplesmente eles sucumbiam ao descanso.
Sim, seus olhos davam-lhe certo ar de embriaguez ou ausência. Respondia a questionamentos alheios apenas ao voltá-los a quem os fizesse. O que conotava negação à sua lucidez.
Mas Irina pouco ou quase nada se importava com os olhares que descobriam os seus olhos nus. Aquela sonolência insistente e peculiar lhe propiciava desdém aos olhares alheios.
Afinal ela queria apenas fechar os seus olhos, descansar os sentimentos ditos por eles exaustivamente, mesmo aos que não mereciam vê-los, lê-los assim. Ela só queria fechá-los e descansar aqueles cílios alongados e sentimentalistas.
E de olhos fechados vestir a transparência com que se mostrava ao ser vista...
Elaine Paiva
@lainepaiva
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4 comentários:
por tudo que li parabéns lai sempre forte .
Mateus, meu querido, vc sempre comigo. Muito obrigada! Beijo meu.
É esse caos, o barulho do mundo, os gritos mudos desse mundo bizarro que nos enlouquece... pra onde se olhar, estará lá o sofrimento, costumeiramente pra dentro. Excepcionalmente no outro, ao vento, o sofrimento não dorme ao relento, só dentro.
Beijos, Lai!
Cris, meu poeta querido, que bela contribuição às minhas palavras. Você, como de costume, nessa relação tão íntima com as palavras. Beijo e carinho. Lai Paiva
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