domingo, 27 de novembro de 2011

Senda



A José Régio e seu Cântico Negro

Quando esta noite vem
E me diz por onde devo caminhar,
Deixo de me ser – luta por luta –
Até me entregar.

Não vou seguir os mesmos passos
Ancestrais que me maculam a memória.
Vou por outros caminhos
Como quem descobre sua trajetória.

Não vou seguir os mesmos passos,
As mesmas trilhas que me dão.
Abandonarei estas fagulhas,
Estas migalhas, este vão...

Não vou! Nunca irei adiante
Pelas sendas deixadas neste incerto
Vagar de meus destinos;
No silêncio fugaz, meu deserto...

Sou apátrida, maldito e meu verso
Escoa pelos olhos esquecidos
De qualquer imagem, do indefinido
Fantasma que um dia foi passo diverso.

Vou, assim, pela madrugada:
Fagulha do ser, coisa passada.


Mário Gerson

6 comentários:

Anônimo disse...

A trajetória desta sofreguidão não extinguem no poeta a dor de latejar-se desde a memória à palavra que não cessa para dizer. Seus escritos são fragmentos subjetivos que não cessam de nos tocar.
Salve, nobre Mário Gerson, saudações a Mossoró!
Leonardo Valente.

Mário Gerson disse...

Meu amigo, obrigado por suas palavras. Um dia faremos um grande encontro literário e vocês virão, de Minas, de São Paulo, do mundo, que o mundo é nosso, é todo nosso! Vamos movimentar a cena, chamar as pessoas para rua, vamos recitar nos bares, nas esquinas, nos pontos de ônibus, vamos xerocar nossos poemas, enfiá-los nos casacos alheios, vamos panfletar nos semáforos nosso arte, nossa palavra solitária na sofreguidão do dia!

Anônimo disse...

Esse dia, tão lindo, será recriado com essas letras que beiram o infinito: nós. Obrigado, por seu enorme coração necessário ao sonho!

Anônimo disse...

Mário, tocante, sonante, comovente. Gostei muito e é um prazer escrever ao lado de pessoas tão especiais como as que aqui estão. Beijo!
Lai Paiva

Alessandro disse...

Faz-se a trajetória na senda de dor e incerteza. Mas faz-se belamente, que é pra isso que serve a poesia.

Que as trajetórias que nos uniram virtualmente também nos unam, um dia, presencialmente.

Abraço, Mário! :)

Mara Medeiros disse...

Entrego-me à noite e deixo que me conduza pelas sendas deste poema. Que me leve! Lindo, Mário! Parabéns.